Projeto visa abrigar famílias pobres que não tenham
residência.
Antigos hotéis de luxo da cidade brasileira de São Paulo,
que já viveram tempos de glória e eram frequentados por governantes e
celebridades de todo o mundo, vão ser em breve transformados em Unidades
Habitacionais Populares (UHPs) e abrigar famílias pobres sem casa.
Três desses hotéis já foram desapropriados pelo governo
municipal e estão total ou parcialmente ocupados por famílias carentes, que os
invadiram no início deste ano e vivem em condições precárias. Mas a edilidade
vai reformá-los para garantir as condições mínimas de habitabilidade e
regulamentar a posse aos moradores.
Um dos hotéis, desativados há muito e que durante anos
ficaram vazios, é o Hotel Cambridge, um ex-cinco estrelas que fica no início da
Avenida Nove de Julho, na área central da cidade. O edifício foi invadido e
ocupado por famílias ligadas à Frente de Luta Pela Moradia, e os próprios
invasores, que dividem entre si despesas comuns como energia elétrica e
manutenção, tomaram a iniciativa de fazerem algumas reformas, nomeadamente de
toda a canalização de água.
No entanto, como o local está invadido e a reforma foi clandestina,
um impasse entre os invasores e a companhia das águas faz com que o precioso
líquido não chegue a nenhum dos 14 andares superiores. Os habitantes têm que ir
buscar água para beber e lavar roupa e louça no rés-do-chão, descendo e subindo
a pé, pois os elevadores não funcionam, e tomam banho em casas de banho
coletivas improvisadas no mesmo andar, o único que tem água da rua.
No antigo Lord Palace Hotel, um ex-quatro estrelas no bairro
de Santa Cecília, que nos tempos áureos era conhecido como “hotel dos artistas”
pelo número de celebridades brasileiras e internacionais que ali se hospedavam,
a situação é mais confortável. Há água em todos os apartamentos e o elevador
funciona. A terceira unidade hoteleira envolvida nesta primeira fase da iniciativa
da edilidade é o Hotel Santos Dumont, no bairro da Luz, um ex-quatro estrelas
requintado construído quando a região era habitada pela elite da maior cidade
do Brasil e que na altura ficava cercado por casarões de famílias nobres e
endinheiradas.
REFORMA E IMPASSE
As três construções vão receber uma reforma total,
reforçando-se e beneficiando-se as estruturas dos imóveis e modificando-se os
seus interiores, transformando as antigas e eespaçosas suítes em apartamentos
familiares, com sala, quartos, cozinha e casa de banho. Quando tudo estiver
pronto, a edilidade venderá as UHPs a preços módicos para famílias pobres, que
terão diversas facilidades para conseguirem pagar o seu imóvel.
Um impasse divide, no entanto, neste momento o governo
paulistano e os movimentos sociais que lideraram as invasões aos três antigos
hotéis e os gerem através de regulamentos internos que dizem o que os atuais
ocupantes podem e não podem fazer.
Os movimentos sociais querem que cada família que já vive
nesses hotéis ganhe um dos apartamentos a serem criados, mas a Secretaria
Municipal de Habitação, responsável pelo projeto, propõe que apenas 25% das
novas unidades populares tenham os beneficiários indicados por essas entidades,
sendo os 75% restantes destinados a outras famílias que também estão em
situação de risco e carência.
Além desses três, outros antigos hotéis do centro da capital
paulista e grandes edifícios residenciais abandonados deverão, numa segunda
fase, ser igualmente destinados à habitação popular. Um desses imóveis é o
antigo cinco estrelas Othon Palace Hotel, na esquina da Rua Líbero Badaró com o
Viaduto do Chá, um edifício com quase 30 andares que já foi um dos hotéis mais
luxuosos do Brasil e alojou até a rainha Elizabeth II de Inglaterra.
O Othon, que fica do outro lado da rua, em frente à sede do
governo municipal, já esteve ocupado por 800 famílias carentes, que tiveram que
deixar o local em junho devido a uma ordem judicial. Um impasse ainda deixa
incerto o destino do imponente edifício, mas os movimentos sociais querem que
seja também destinado à habitação social e que as famílias que já viveram nele
tenham prioridade para ocupar os novos apartamentos.
Fonte: CM Jornal